Por Wilson Nascimento
Você já jogou bolinha de gude? É! bolinha de gude, aquele com caçapa feita na terra? Isso mesmo! Bolinhas de gude que você ganhava ou perdia em cada partida, guardadas numa bolsa de pano surrado ou num saquinho de leite tipo C. Lembrou, né?
Luizinho era garoto humilde, mas grande jogador. O maior de sua rua! E Exibia seu troféu com orgulho: dúzias de bolinhas de gude em uma vistosa bolsa de tecido azul, costurada por sua avó.
Cada bolinha tinha sua própria história particular: a verde rajada de preto foi meu pai que me deu, a verde rajada de branco foi meu avô. A azul riscadinha tomei do Paulinho numa tacada perfeita…esta outra verde com mancha laranja ganhei na “mão grande” do Pedrinho porque ele tinha me tomado a preto e branca!
Uma delas era a mais especial: a tacadeira! De cor verde clarinho, com um risco branco leitoso, pesada, mas com o tamanho certo para os dedos magros. Era só mirar e pá! A bolinha zunia como se fosse mágica e derrubava várias bolinhas do oponente, que se juntavam a coleção. Luizinho era o maior!
A humilde bolsa azul continha toda a riqueza que o garoto Luizinho poderia ter. Já eram 52 bolinhas que demonstravam sua grande habilidade neste nobre esporte! Nada o faria desistir daquele precioso tesouro.
Mas chegou o momento de ir à escola e o material escolar é um grande fardo aos pais. É tanto caderno, livros, lápis, borracha. Tudo caro, caríssimo. Os pais já não tinham de onde tirar.
Luizinho percebeu o apuro dos pais, mas não sabia como ajudar. Ele não trabalhava, não tinha nada…a não ser o seu tesouro, suas bolinhas de gude!
Ele se lembrou que Gustavo, filho do seu Ademar, queria muito sua tacadeira mágica especial. Todo dia, Gustavo dizia: – “eu quero essa bolinha, daí eu serei o campeão da rua!”. Luizinho nem ligava, pois não haveria dinheiro que o separasse de sua bolinha especial.
Luizinho refletiu muito. Viu aí a chance de ter o material que lhe faltava para iniciar na escola, que um dia o tornaria um engenheiro para construir os mais belos edifícios e uma casa para os pais, com o luxo e o conforto que eles nunca tiveram.
– “É uma troca justa!”, pensou Luizinho que foi até o garoto Gustavo e vendeu suas bolinhas, incluindo a preferida. Trocava pequeno tesouro por outro tesouro maior, mesmo que isso, ainda lhe custasse alguns anos mais e um bocado de esforço.
Com o dinheiro da venda das bolinhas correu até a livraria e comprou o livro que lhe faltava.
“O reino dos céus é semelhante a um tesouro que, oculto no campo, foi achado e escondido por um homem, o qual, movido de gozo, foi vender tudo o que possuía e comprou aquele campo. É semelhante, ainda, a um negociante que buscava boas pérolas, e, tendo achado uma de grande valor, foi vender tudo o que possuía e a comprou.”
De acordo com a parábola descrita por Jesus, o garoto Luizinho trocou seu tesouro material e imediato por um tesouro maior, que ainda estava distante e custoso. Nosso amiguinho agiu certo?
Claro que sim! Deixou o acúmulo de matéria, que lhe trazia satisfação momentânea para iniciar o acúmulo de conhecimento que finalmente lhe traria verdadeiro êxito. Chegaremos ao “Reino dos Céus” com esforço e dedicação, deixando para traz os tesouros transitórios que nos ludibriam os sentidos, retardando nossa jornada de excelência espiritual.
Tudo o que possuímos na existência terrena nos é emprestado pela Providência Divina para que aprendamos a lidar com nossos sentimentos e emoções, reforçando nosso entendimento sobre o que é bom e sobre o que é indispensável.
É bom brincar de bolinha de gude? Sim! Mas é indispensável estudar!
É bom disfrutar da vida? Sim! Mas é indispensável conhecer os conselhos do Mestre!
Hoje, a bolsa azul de Luizinho não carrega mais bolinhas de vidro multicoloridas, que refletiam sua ilusão de êxito. Leva ensinamento e a esperança de novo futuro de aprendizados e trabalhos, como aquele que carrega em si o Evangelho renovador do Mestre Jesus.
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2 Comentários
O desapego das coisas materiais é um sacrifício agradável a Deus e prova de evolução do homem. Tudo é transitório e quando olhamos para frente e seguimos o caminho confiantes em Deus, com certeza encontraremos muitos tesouros espirituais que o dinheiro não compra.
Com certeza, Ana. Muito obrigada pelo comentário e por estar nos acompanhando.