Por Elcio de Lima Rodrigues
A Doutrina Espírita com sua vasta literatura e, mais recentemente com o auxílio da internet, é uma excelente ferramenta de pesquisa e nos permite analisar as diversas questões através de ângulos inteiramente novos para nós.
Apenas para compreendermos melhor: Como você exemplifica a questão das mortes prematuras? Eu diria que as mortes prematuras são aquelas que ocorrem antes do tempo previsto, e um exemplo clássico é a morte de crianças.
Pois bem, esse exemplo está certo, mas, com a Doutrina Espírita compreendemos que existem dois ângulos para essa questão:
Se olharmos pelo lado humano, essa definição está correta, mas se analisarmos sob o ponto de vista espiritual, em grande parte das vezes, quando uma criança morre ela está deixando o corpo no momento certo, porque esse era o tempo que ela realmente necessitava estar encarnada. Por essa ótica a morte não foi prematura.
Viu como o Espiritismo alarga as perspectivas dos acontecimentos?
Com relação ao Livre-arbítrio ocorre a mesma coisa. Vejamos:
O Livre-Arbítrio é total ou limitado? Ele existe desde que fomos criados?
Ampliei muito meu conceito de Livre-Arbítrio através das palestras virtuais do extraordinário Educador e Orador Espírita Cosme Massi.
Podemos considerar o livre-arbítrio sob três aspectos:
- Liberdade da ação (agir)
- Liberdade da razão (pensar)
- Liberdade da vontade (querer)
Liberdade de ação:
A liberdade de agir está limitada por leis naturais e humanas. Por exemplo: Eu posso determinar que não irei envelhecer, mas eu não consigo, porque a lei natural me impede de que eu me mantenha sempre jovem.
Se eu chegar no alto de um prédio e quiser voar eu não consigo porque estou atrelado a uma lei natural que é a lei de gravidade segundo a qual os corpos são atraídos para o centro da Terra.
Veja esse conceito científico: Do ponto de vista prático, a atração gravitacional da Terra confere peso aos objetos e faz com que caiam ao chão quando são soltos (como a atração é mútua, a Terra também se move em direção aos objetos, mas apenas por uma ínfima fração).
Portanto, o livre-arbítrio de nossa ação está atrelado a limites que escapam da nossa simples vontade.
Liberdade da razão ou liberdade de pensar
Se eu não posso voar, como vimos, será, então, que eu posso somente pensar nisso? Sim, eu não posso fazer, mas posso perfeitamente pensar nisso. Então o livre-arbítrio do meu pensamento é ilimitado? Não é ilimitado porque a liberdade dos meus pensamentos está limitada aos meus conhecimentos, eu não posso pensar em algo que não conheço. Portanto o livre-arbítrio de pensar está limitado àquilo que eu conheço. Lembra-se da frase do Mestre Jesus:
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará?” Em resumo, o Conhecimento nos liberta, traz a plenitude do livre-arbítrio.
Liberdade da vontade (querer)
É você quem determina o que quer, mesmo que esteja sujeito a influências externas. Mas assim como o pensamento, a vontade tem limites naquilo que eu sou, pois não posso querer aquilo que não conheço.
Como vemos os três aspectos são os mesmos, porque sou um único ser, portanto eu ajo, penso e quero da mesma maneira e dentro dos limites do que sou.
Um exemplo maravilhoso de Livre-Arbítrio:
Joana de Cusa, que depois de muitas outras encarnações hoje é a mentora de Divaldo Pereira Franco, com o pseudônimo de Joana de Angelis, nos anos 69 depois de Cristo, estava amarrada ao poste do martírio ao lado de seu filho e sofria as primeiras flagelações. O executor de seus sofrimentos ordenava abjura incitando-a a negar Jesus.
Ao seu lado o filho implorava: – Repudia Jesus minha mãe.
As rogativas do filho são como espadas de angústia que lhe retalham o coração. Entretanto ela diz ao filho: – Cala-te, meu filho. Acima de todas as felicidades do mundo está Jesus.
Atearam fogo em Joana e em seu filho ante sua negativa. Os verdugos ainda lhe dizem: – O Teu Cristo não te ensinou a morrer? – Não apenas a morrer, mas a também a vos amar responde Joana.
Nesse momento ela sentiu a mão de Jesus em seu ombro e sua voz inesquecível que lhe disse: – Joana eu estou aqui.
Nesse instante, Joana de Cusa fez sua escolha e seu pensamento firme em Jesus lhe possibilitou tomar essa decisão.
É uma força evolutiva daquele que conhece a verdade, ao contrário do filho que se viu abatido no momento crucial. Ela poderia exercer seu livre-arbítrio negando Jesus, mas não o fez por conhecer a verdade.
Continuando com nossa reflexão…
Será que o espírito tem livre-arbítrio desde o começo da sua trajetória?
Como dissemos o espírito tem os limites do seu livre-arbítrio naquilo que ele conhece. Segundo a pergunta 115 do Livro dos Espíritos, “Os espíritos são criados simples e ignorantes”. Ora, quem tudo desconhece, que age apenas pelo instinto, como pode exercer a sua liberdade de pensar, querer e agir? Ele não tem parâmetros para suas escolhas.
Portanto o LIVRE-ARBÍTRIO é uma potência que o espírito vai desenvolvendo junto com a sua inteligência, na medida em que vai adquirindo conhecimentos.
Assim será até o infinito, quanto mais conhecimento adquirir, mais ele amplia o rol de ação do seu livre-arbítrio. Comparemos com as crianças: No início da vida elas não podem fazer escolhas porque nada conhecem. Mas, quando vão crescendo e adquirem mais conhecimentos, se tornam aptas a fazer escolhas. Assim é a vida do espírito.
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Vejam este ensinamento de Emmanuel na obra Chico Xavier / Emmanuel (espírito) “Recados do Além”.
O discípulo procurou o instrutor cristão e pediu-lhe um parecer sobre a liberdade.
O nobre amigo, de coração marcado pelas experiências do mundo, pensou por longos momentos e respondeu:
– Se ainda não conheces os ensinamentos do Cristo, estás livre para fazer o que gostas, mas se já aceitaste as lições de Jesus, estás livre para fazer o que deves.